Um soco de impermanência
Ajude as vítimas das enchentes no RS! O meu primeiro livro infantil foi impresso e aqueles que contribuíram durante a campanha do financiamento receberão em casa logo logo!
Sobre o Psiu
O meu primeiro livro infantil, Psiu, o passarinho que fugiu, foi impresso e aqueles que contribuíram durante a campanha do financiamento coletivo receberão em casa logo logo! O livro está a venda pelo site da editora ou diretamente comigo, só entrar em contato por email ou Instagram.
Aprender com a mente vs. coração
A vida é impermanente. Eu sei disso há um tempo e talvez não seja novidade pra você também, principalmente se você já teve algum contato com o budismo. A definição de impermanência no budismo diz que tudo é transitório e sujeito à mudanças, e que qualquer tentativa de controlar essas mudanças é fonte de sofrimento.
Tenho me aprofundado nos estudos do budismo tibetano e essa informação se aprende logo no começo e é repetida à todo instante. Porém, o que descobri recentemente é que existe uma diferença entre aprender com a mente e aprender com o coração.
Passamos boa parte da nossa vida tentando controlar os caminhos que se apresentam pra gente. Fazemos força para estudar e conseguir entrar em um vestibular, para escolher uma profissão e seguir nela por anos, para encontrar uma pessoa e viver com ela para o resto da vida, para entregar as tarefas do trabalho no prazo, para atingir metas no trabalho, metas de ingestão de calorias e proteínas, metas de leituras, metas de fim de ano.
Em Dezembro, eu estava ansioso porque havia cumprido o cronograma com as atividades para a divulgação do Psiu, meu primeiro livro infantil. Eu havia batido a minha meta, minhas tarefas.
Porém, houve atrasos na entrega do livro diagramado porque a designer, também inserida nesse mundo impermanente, sofreu um acidente e teve seus movimentos restringidos. Ela passou inclusive por cirurgias para a correção do problema.
De Dezembro até agora — entramos em maio! — muita coisa mudou na minha vida. Amigos próximos com relacionamentos duradouros terminaram, meus pais se mudaram de Estado e eu decidi segui-los, meu sogro faleceu, o trabalho aumentou a carga e a pressão significativamente, veio Carnaval, aniversários, compromissos com os quais eu já tinha me comprometido, Páscoa, ou seja, minha vida se desestruturou completamente e todo meu cronograma de tarefas foi congelado.
Eu poderia ter diminuído a quantidade de mudanças ocorrendo ao mesmo tempo. Eu não precisava mudar de cidade; não precisava me empenhar tanto no trabalho, definindo melhor os limites da minha atuação profissional; poderia não ter dado o suporte necessário aos amigos e familiares que precisaram alegando eu ser a pessoa que precisava de cuidados agora.
Minha decisão, no entanto, foi de largar as rédeas e deixar a vida fluir. Em um primeiro momento, minha sensação foi de que eu havia suspendido todos meus planos. Depois de algumas meditações e contemplações da minha condição, uma paz de espírito tomou o lugar da frustração e fui desapegando desses planos e metas.
Conforme já falei, há uma diferença entre saber as coisas de cabeça e de coração. Foi nesse instante que percebi que o ensinamento da impermanência estava mudando de órgão.
O que isso quer dizer? A medida em que fui me observando frustrado por não conseguir mover meus planos adiante, passei a observar como o tempo dedicado aos outros fazia bem a eles.
Vê-los bem passou a ser mais recompensador que marcar as minhas tarefas planejadas como concluídas. É isso aconteceu devido a um grande desapego: o desapego do meu sucesso.
Assim como escrevi um dia que havia desistido de ser escritor, mas que não pararia de escrever, agora, me parece, que desisti de ser bem sucedido, mas sem desistir de agir.
A leveza que isso me trouxe me fez uma pluma levada pela brisa. Eu irei atingir o chão, essa é minha trajetória, minha direção, mas deixo o vento agir contra mim sem resistência, aproveitando seu embalo gentil.
Semana passada, a impermanência mais uma vez mostrou a cara: uma catástrofe climática assolou boa parte do Rio Grande do Sul. Eu, como alguns já sabem, sou de São Leopoldo, uma das cidades mais atingidas pelas enchentes.
Todos meus familiares foram afetados, incluindo meus pais, cuja casa é uma das presentes na foto acima, apesar e não morarem mais na cidade. Estão todos bem, porém os danos materiais foram enormes. Quero estar disponível para todos e ajudá-los nesse momento porque imagino o quão desesperador pode ser ficar sem casa e pertences do dia para a noite.
A recuperação será longa e custosa. Governadores e Prefeitos estão perdidos e não estão sabendo lidar com o tamanho do estrago. Muitos deles, inclusive, tendo ligação direta com o despreparo da infraestrutura e das políticas que poderiam ter reduzido os danos.
Gostaria de enfatizar novamente: a recuperação será longa e complexa. Em Porto Alegre já se fala em mover alguns bairros de lugar. São Leopoldo terá que se readequar também.
As doações para o PIX do governo e outros órgãos não são para uso imediato. Portanto, as doações de alimentos, água e outros bens agora são importantes e devem continuar.
Porém, as doações para o PIX do governo e outros órgãos não são para uso imediato. É importante se conscientizar da necessidade de cobrar os políticos de políticas que permitam que as pessoas se re-ergam e se re-estruturem a longo prazo.
No meu ver, doar para os governos não é a prioridade. Há outras políticas a nível Federal que poderão ajudar nesse segundo momento e há dinheiro na União que pode ser remanejado.
O foco precisa ser pontual. Há inúmeras pessoas ajudando e prestando contas. Muitos deles são amigos e conhecidos. O Eduardo Oliveira, em especial, está fazendo um trabalho crucial e preciso, entregando mantimentos sob demanda dos centros de acolhimento aos refugiados e colchões. Se puder, ajude:
Até a próxima,