Faz algum tempo que quero compartilhar minhas leituras. A ideia original era fazer vídeos no YouTube com resenhas e poemas selecionados, porém a dinâmica de gravação e edição de video pode ser bem demorada e complexa.
Como não tenho um “estúdio” em casa, fico a depender da luz do dia. Os ruídos e sons dos vizinhança também atrapalham. Ainda que consiga gravar, preciso me organizar para editar o conteúdo. E, quando lanço um vídeo, já estou atrasado para iniciar o próximo.
Em paralelo, tenho pensado em cada vez mais investir na newsletter. Aqui, consigo produzir com qualidade e de maneira mais efetiva e regular. Tentando unir o útil ao agradável, trago aqui a primeira “resenha” de uma pilha de leituras que quero compartilhar.
Não quero focar apenas em poesia, mas também outros gêneros que gosto: ficção, não-ficção e biografias. E, dito isso, vamos ao livro dessa edição?
Há um bom tempo venho falando de haicais e tenho escrito alguns também. Geralmente, os temas abordados remetem à natureza e à plenitude da vida — uma poética das pequenas coisas que nos passam apercebidas no dia a dia.
É uma forma de poesia onde há pouco espaço para opinião ou até mesmo ação. Um dos princípios, inclusive, é omitir o máximo possível o ego.
O livro Haiqueer de Guilherme Aniceto, ao contrário disso, usa os haicais como uma força política e também reflexiva da existência LGBTQIAP+. Os poemas são bem humorados e leves, porém abordam temas recorrentes e estruturais da nossa sociedade. Abaixo trago alguns exemplos.
Garfava a mulher Mas no sigilo, comia O boy de colher. — — — O armário não presta Para guardar nossos corpos São roupas de festa. — — — Sexo não faz falta, Mas se me arrancam o afeto: Reunião sem pauta.
Na minha leitura, observei que todos os haicais seguem a forma tradicional no quesito número de sílabas. Todo primeiro verso possui 5 sílabas poéticas; o segundo, 7; e o terceiro, 5 novamente.
Na contramão do tradicional, há uma vertente que se popularizou no Brasil nas últimas décadas: rimar o primeiro com o terceiro verso. Eu particularmente gosto dessa “adequação aos trópicos” da versão japonesa. É como se o poema adquirisse um gingado mais brasileiro.
Porém, o ponto final presente em todos os poemas me incomoda um pouco, porque eu acredito que a força do haikai seja a criação de uma atmosfera de “suspensão”.
Nesse sentido, a presença do ponto final e das rimas transformam o haicai muito mais próximo a um ditado popular do que um abismo. Isso, claro, é um detalhe. Saliento mais a fim de destacar essa característica.
Além dos poemas mais políticos, há poemas mais fofinhos.
Passeio no parque — Entre sorvetes e bocas Línguas de rapazes. — — — Dois homens sem culpa Mil dedos indicadores: Crime sem desculpa. — — — Quando era pequena Sabia-se diferente — Igualzinho à Xena.
Há também os haicais que possuem menos trabalho de jogo de palavras e imagens menos impactantes. O efeito destes é muito mais de uma afirmação do que de abismo. Independente disso, eu gostei muito da leitura.
Se eu pudesse resumir o livro em uma frase, eu diria que é um Young Adult escrito em versos. Um prato cheio para adolescentes e adultos que gostam do gênero.
Para comprar este e outros livros, dê uma conferida no Linktree do autor.
Aproveitando o assunto, gostaria de divulgar o trabalho do meu amigo Jean Carlo Barusso. Ele está lançando o terceiro livro que se chama Transa. Ainda está na fase de pré-venda, mas dado o histórico, vai valer a pena.
O livro é separado em duas partes: RAPIDINHA e DEVAGARINHA. E, além da sexualidade, aborda política, psiquê, dentre outros.
Portanto, fica a recomendação do livro e do autor para se seguir ;)
Abraços, e até a próxima!