Desapegar-se traz uma leveza imensurável. Recomendo fortemente.
Sobre o futuro da newsletter :) Spoiler: não muda nada.
Começo um texto para compartilhar aqui na newsletter. Estou empolgado, quero falar sobre como foi a FLIP, das boas experiências, dos contratempos. Depois de escrever um trecho, deixo computador pessoal de lado e me volto para o computador da empresa. No dia seguinte, o texto não parece interessante. É isso mesmo que quero compartilhar?
Tento uma outra ideia: 7 livros imperdíveis de haicais escritos por brasileiros. Separo os livros das caixas — me mudei no começo do ano e não há espaço para organizá-los em uma estante. Folheio cada um para relembrar o sabor dos poemas lidos há algum tempo.
Já são 9 da manhã, e preciso começar a trabalhar. Deixo a escrita para o dia seguinte, que, por infortúnio, há uma reunião marcada cedo. Não consigo começar o texto na manhã devido à reunião e, à noite, minha cabeça está cansada demais para escrever — simplesmente o texto não sai.
No dia que se sucede, a energia para escrever não brota. Encaro a página em branco, mas é torturante. Tenho uma vontade de escrever, mas não sei dizer o quê. E nessa briga, quando vejo, já deu o horário reservado, e o trabalho me chama.
Finais de semana, após um pacto comigo mesmo de alguns anos, não é para trabalho — e é assim que encaro o fazer literário —, logo não há espaço para ficar em casa escrevendo uma newsletter. Sábado é dia de aproveitar coisas que a semana me nega, como uma pedalada no parque, um chamego, ócio.
Durante anos vivi uma angústia recorrente: eu deveria estar curtindo lá fora ou ficar em casa escrevendo? Pois quando ficava em casa, queria estar lá fora. E quando estava lá fora, me culpava por não estar escrevendo.
Depois de alguns burnouts — já tive ao menos 3 severos, tendo 1 deles me afastado do meu trabalho por 3 anos —, o que me ajudou nesse processo foi assumir determinados princípios. Minhas atividades precisavam caber na semana, e para isso estipulei faixa de horários para elas.
Essas atividades são prioridade, portanto, devem ser feita antes do trabalho iniciar, de modo que minha cabeça esteja fresca e mais vazia. Além da escrita, estão nas manhãs, organizadas ao longo da semana, a meditação e estudos de línguas — estou estudando libras e mandarim.
Como a vida é inconstante, tem vezes que acordo mais tarde, menos disposto, sem as condições para escrever ou estudar. Nesses casos, passada a hora reservada, perco a chance de exercitá-la e sigo o calendário.
Se escrevo às terças e às quintas, e numa quinta estou sem saco para escrever, só retornarei à escrita na próxima terça, salvo um ímpeto muito grande, uma vontade que surge inesperada e me traz prazer.
Essa técnica organizou melhor minha vida, trouxe um pouco mais de constância e cortou esses sentimentos de frustração que me faziam querer estar em outro lugar. Me permitiu estar mais presente.
Por outro lado, com a vida capitalista e acelerada que temos, uma outra pressão começa a surgir: a de ter que entregar conteúdos periódicos a uma audiência específica.
Os algoritmos domaram nossos interesses e aumentaram a velocidade na qual procuramos novidade. Ainda que eu queira viver fora desse ciclo e esteja okay com o meu ritmo de produção de conteúdo — veja, a última publicação foi há 6 meses! —, fico ainda inseguro, pois sei que os consumidores desse conteúdo, muito provavelmente, estão envolvidos no ritmo das redes sociais.
Nesse cenário, só há uma forma de ter paz: a remoção de qualquer motivação ou objetivo nos meus textos. Se essa newsletter não tem objetivo de “fidelizar” ou “fomentar” uma base leitores-possíveis para meus livros, se simplesmente eu usar esse meio como uma forma de compartilhar um pouco mais dos meus achados e interesses, no meu ritmo, dentro das minhas possibilidades, então eu terei paz.
Então, em suma, é essa a mensagem. Esse texto surge como uma formalização. Assim como eu já expliquei que desisti de ser escritor, mas que não irei parar de publicar (resolução de ano novo para 2022), agora, venho aqui dizer que não teremos uma newsletter regular para conquistar novos potenciais leitores (resolução de ano novo para 2025?). Essa newsletter seguirá existindo e continuarei publicando, mas não há mais um objetivo da minha parte.
Desapegar-se traz uma leveza imensurável. Recomendo fortemente.